Consciência como fundamento do Ser
Morremos mas continuamos por aqui segundo Federico Faggin. Sério?
O maior inventor italiano vivente: pai do microchip, touchpad e touch-screen (não estariamos aqui sem ele!) é Federico Faggin, que nos traz algo inimaginável há algumas décadas: ele provou que a nossa Consciência, sendo energia, não morre conosco. Revolucionário. Mas, como assim?
Federico Faggin, físico e empreendedor inventor do primeiro microprocessador do mundo, o chip Intel 4004, que é o dispositivo no coração de toda a nossa tecnologia de computadores. Em 2011 fundou a Fundação Federico e Elvia Faggin que se dedica a apoiar pesquisas sobre sua natureza e origem e com Giacomo Mauro D'Ariano, desenvolveu um novo modelo físico da realidade no qual a consciência, não a matéria, é vista como o princípio fundamental.
Li estes dois livros dele (acima) que falam sobre como ele chegou neste paradigma, para entrar num tema que me apaixona hoje muito: a Consciência. Prepare-se, isso vai chacoalhar algumas verdades na qual você acredita, como aconteceu comigo. Principalmente esta sua afirmação:
“Achamos que quando o corpo morre, é o fim da nossa consciência porque nos disseram que a consciência é produzida pelo cérebro. Mas como eu descobri, é o contrário. É o cérebro que é produzido pela consciência e então a consciência usa o corpo como uma ferramenta para se conhecer. “ Faggin.
Segundo ele, a nossa identidade pode se transformar, mas nunca morremos. Somos entidades quânticas, e uma consequência desse modelo é a ideia de que existimos no que poderíamos chamar de "eternidade". Quando nosso corpo morre, não vamos a lugar nenhum porque, de certa forma, nunca estivemos "aqui".
Qual é a natureza da realidade física e a natureza da consciência? Perguntas sem resposta desde sempre…
Claro, a ciência fez um tremendo progresso na compreensão da realidade física, mas a consciência permanece em grande parte um mistério. Na experiência humana, a realidade tem um aspecto interno, subjetivo, e um aspecto externo, objetivo, mas a ciência insiste em uma posição materialista onde tudo no universo, incluindo a consciência, é suposto derivar da matéria.
Para a ciência, então, apenas a realidade externa existe, e a realidade interna deve, portanto, ser um epifenômeno - na reflexão de alguns cientistas, psicólogos behavioristas e certos filósofos materialistas ou positivistas, a consciência humana, fenômeno secundário e condicionado por processos fisiológicos, e, portanto, incapaz de determinar o comportamento dos indivíduos.
Nos últimos 400 anos, a cultura ocidental viveu suspensa entre um dualismo mente-corpo cartesiano e um monismo baseado no materialismo científico.
Por outro lado, por mais de 4000 anos, muitas tradições espirituais orientais sustentaram que a consciência é fundamental, e que a realidade física deriva dela.
Mas nós, simples mortais curiosos, como podemos resolver esse debate e encontrar unidade entre as realidades interna e externa? Bem, Federico è o primeiro cientista pensador contemporâneo que começa a nos iluminar neste sentido. Por isso trago a vocês o que ele descobriu:
Como a Consciência entrou nos estudos deste gênio?
Federico conta que sua pesquisa sobre a consciência começou nos anos 80, quando ele fundou uma empresa para desenvolver emuladores de redes neurais artificiais, sistemas que poderiam aprender sozinhos. Durante seus estudos de neurociência e biologia, ele percebeu que os livros ignoravam a consciência. Isso o levou a questionar: como sinais elétricos poderiam se transformar em sentimentos? E o que seria necessário para criar um computador consciente?
Essas perguntas o intrigaram profundamente, mas, após algum tempo, ele concluiu que a resposta era impossível no contexto de sua empresa… e de sua vida.
Na mesma época, ele conta que, apesar de ter tudo o que deveria proporcionar felicidade – uma família saudável, riqueza e reconhecimento –, sentia-se profundamente infeliz, embora relutasse em admitir. Havia um grito silencioso dentro dele, uma insatisfação que ele não conseguia explicar. Ele não sabia, então, que essa busca científica pela consciência e seu desconforto interior estavam conectados…
Ele relata que tudo mudou durante umas férias no Lago Tahoe, na época do Natal. No meio da noite, ele teve uma experiência transformadora: sentiu uma energia branca e brilhante, que ele descreve como um amor imenso e autoconsciente, emergindo de dentro dele. Percebeu que tudo ao seu redor era feito dessa mesma energia e pela primeira vez, experimentou ser tanto o observador quanto o observado. Embora breve, essa experiência mudou sua vida, mostrando que a realidade era muito maior do que ele conhecia.
Faço um parêntese: essa experiência é comum a muitas tradições religiosas e espirituais. No meu estudo nessa área desde 2005, encontrei 2 contextos espirituais (orientais) em que algo semelhante pode ocorrer:
A primeira è no Budismo, onde aprendi que esta experiência pode ser um momento de satori (no zen-budismo) ou de insight vipassana, jà que ocorre uma percepção direta da interconexão de todas as coisas e da ausência de separação entre o "eu" e o universo. Isso nos dà um estado de profunda clareza, em que a ilusão da dualidade se dissolve e a mente experimenta a realidade como ela é.
Já no Hinduísmo/Yoga pode ser descrita como a realização do Atman (o Eu Superior ou alma) e sua conexão com o Brahman (a realidade última). O amor imenso e a energia autoconsciente que ele descreve são comuns na literatura espiritual como características de estados elevados de consciência, como o samadhi (união) ou o moksha (liberação). Pode ser também um estado de nirvikalpa samadhi, em que não há mais distinção entre sujeito e objeto. O sentimento de amor universal e a energia branca brilhante que Federico descreve são frequentemente associados à ativação do chakra Sahasrara (chakra da coroa), que representa a conexão com o divino e a consciência cósmica.
Isso o colocou em um caminho de busca para entender a consciência, pois ele percebeu que esse entendimento não viria de livros, mas de experiências diretas.
Nos 20 anos seguintes, ele explorou práticas como terapia transpessoal, diferentes formas de meditação e métodos psicoespirituais e decidiu se dedicar ao estudo científico da consciência, que ele considera seu último grande projeto.
Qual é a essência da matéria? Os físicos agora concordam que é informação.
Ele refere que hoje, átomos e moléculas – que pensávamos que constituíam 'coisas' não existem como objetos. Elas existem apenas como estados de campos – os campos quânticos fundamentais – que interagem entre si e então criam todo o resto.
Nós achamos que vivemos em um mundo onde há objetos – entidades separadas – que interagem entre si no espaço e no tempo. Essa tem sido a visão de mundo tradicional da ciência. No modelo que ele propõe, esses campos quânticos são conscientes. WHAT? A ideia de campos quânticos conscientes é, de fato, uma afirmação provocativa e controversa, porque a ciência tradicional geralmente separa consciência e matéria.
Isso implica que a consciência não seria apenas uma propriedade emergente do cérebro (como geralmente se acredita), mas algo fundamental e universal, presente na base da realidade. Esse modelo é conhecido como panpsiquismo em filosofia, a ideia de que todos os componentes do universo têm algum grau de consciência, mesmo que mínimo.
Por que isso é importante? A visão de Faggin propõe que:
A separação entre mente e matéria, uma dicotomia clássica da ciência ocidental, não existe, como jà apresentei neste artigo sobre a visão sistêmica.
A consciência seria tão fundamental quanto os campos quânticos que criam o universo.
Embora isso esteja fora do escopo da ciência tradicional, é uma tentativa de integrar física, filosofia e espiritualidade em uma visão unificada do cosmos.
“Nosso corpo é temporário e nossa identidade pode se transformar, mas nunca morremos.”
Esta sua afirmação me deixou pensando uma boa semana, confesso que não è fácil digerir uma coisa destas, não intelectualmente: a minha cabeça como a sua è ainda muito cartesiana, não entra! Resolvi sedimentar, “dormire sopra” como dizemos aqui na Itália e uns dias depois entendi. E o que penso vai ser o tema de um próximo post sobre a Consciência, porque è um pouco mais intimo e profundo…
Mas enfim, a consciência pode ser definida como a capacidade de sentir?
Um bom início. Mas como ele mesmo explica, “sentir implica a existência de um sujeito que sente, um observador, um self . Portanto, a consciência está inextricavelmente ligada a um self. Self e consciência são inseparáveis.”
Poderíamos então dizer que a consciência é a capacidade inerente de um self de perceber e conhecer por meio de sentimentos, por meio de uma experiência senciente (adjetivo que significa ser capaz de sentir ou perceber através dos sentidos).
A consciência tem a capacidade de se voltar para si mesma, permitindo que nos conheçamos profundamente, além de percebermos o mundo ao nosso redor.
É como se o 'eu' só existisse de verdade quando olhamos para dentro e nos reconhecemos: eu existo porque sei que existo, e sei que existo porque tenho consciência de mim mesmo.
Isso é parecido com a famosa frase de Descartes: 'Penso, logo existo', mas com uma ideia mais rica, aqui a 'matéria' que nos forma é autorreflexiva – ela pode se observar e se reconhecer. Quando isso acontece, o 'eu' se torna real.
O ato de nos conhecermos não é apenas entender quem somos; é também criar quem somos.
Conhecimento e existência estão profundamente ligados, como dois lados da mesma moeda: um não existe sem o outro.
Tema profundo, eu sei, mas Odisseia è sobre Ser, você sabe!
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Complexo? Complexo! Espero mais artigos sobre o tema que de verdade é bastante intrigante.
Um tema que requer a open mind que tu tem, portanto, vai ser easy! Baci