Guia essencial para Enxergar o que está Vendo na Milan Design Week
Você está pronta para ver além da superfície?
Todo ano, é a mesma coisa: nosso feed se enche de posts sobre a nova grande tendência do Salone del Mobile, e influenciadores chamam a nossa atenção com estandes instagramáveis, instalações monumentais e conceitos bem embalados.
Desta forma o que chamamos de hype se espalha rápido. E, de repente, o que aparece mais vezes no nosso scroll vira sinônimo de futuro.
Hype é o exagero de algo, ou em marketing uma estratégia para enfatizar alguma coisa, ideia ou um produto e também um assunto que está dando o que falar. Geralmente se usa para citar algo que está na moda, comentado por todo mundo.
Mas será que é assim que as verdadeiras trends iniciam e acontecem?
A realidade é que muitas dessas tendências são reciclagens bem produzidas do passado, e os sinais mais transformadores quase nunca estão onde todo mundo está olhando.
Eles são silenciosos, discretos, quase invisíveis a olho nu.
Na minha experiência de mais de 20 anos na pesquisa e análise de trends, os materiais revolucionários estão nos bastidores e as ideias realmente disruptivas não brilham sob holofotes, porque ainda nem foram validadas pelo grande público!
E as mudanças profundas no design - as metatrends - não se encaixam em um carrossel bonitinho do Instagram, como você que me acompanha, jà sabe!
🔎 Se você quer aprender a enxergar as metatendências antes de todo mundo, conheça meu curso sobre Metatrends.
É por isso que, para entender o que realmente importa, não basta seguir o que é mais fotografado – é preciso aprender a ver o que não está sendo dito.
Na próxima vez que alguém falar sobre “a tendência do momento”, pergunte-se: isso é realmente novo ou apenas um déjà vu bem maquiado?
Porque inovação de verdade não precisa gritar. Ela sussurra. E poucos têm paciência para escutar.
Digo sempre que nem tudo que brilha é inovação e, na arquitetura e no design, muitas 'novidades' são apenas o passado reembalado.
A verdadeira revolução está nos detalhes – mas você sabe reconhecê-los?
🌍 Saiba mais sobre as tendências reais da MDW 2025 neste meu artigo sobre o tema.
O futuro do design nem sempre está no que é novo, mas no que resiste ao tempo. O que estamos chamando de inovação hoje ainda fará sentido em 2030?
Minhas 4 regras para distinguir um hype passageiro de uma mudança real:
1. Instagramável não é sinônimo de inovador
O filósofo Vilém Flusser já alertava sobre a "sociedade das imagens" décadas antes do Instagram e hoje, vemos sua profecia materializada: instalações espetaculares geram filas de selfies, mas representam apenas a camada superficial do design.
Essas experiências são momentos fabricados para serem documentados, não vividos e por isso, os verdadeiros inovadores raramente estão nos espaços mais fotografados.
Faça o meu teste prático: Quantas instalações "virais" do ano passado geraram mudanças reais na indústria? A maioria desapareceu sem deixar rastro além de likes.
2. Inovação de verdade é silenciosa
O teórico do design Ezio Manzini diz que è a "inovação discreta" aquela que transforma fundamentalmente nossa relação com os objetos.
Os bioplásticos desenvolvidos em laboratórios anônimos, os novos métodos de produção zero-waste, os sistemas circulares de design - estas são as verdadeiras revoluções acontecendo longe das hashtags.
Eu acredito que a verdadeira inovação não está nos objetos acabados, mas nos processos de fabricação e nas relações que os tornam possíveis. Olhe para isso!
3. Quem só passa uma semana aqui vê a casca, não o conteúdo
Milão não começa e termina na Design Week porque o verdadeiro pulso da inovação bate nos estúdios, oficinas e laboratórios que operam o ano inteiro.
A socióloga urbana Saskia Sassen demonstra como cidades criativas funcionam como "circuitos de conhecimento" contínuos e por isso, quem aparece por cinco dias e sai distribuindo previsões de tendências está apenas captando a espuma da onda.
O contexto histórico, as tradições artesanais locais, as relações entre produtores e criadores, o genius loci - este é o substrato invisível que torna Milão um epicentro de design, não apenas um cenário para eventos.
🌍 Saiba mais sobre o que significa o Genius loci neste meu artigo sobre o tema.
4. O valor está nas margens, não no centro
Enquanto os holofotes iluminam as grandes marcas, os verdadeiros catalisadores de mudança trabalham nas periferias e isso jà foi demonstrado pela pesquisa da antropóloga Lucy Suchman - ela afirma que a inovação frequentemente emerge de comunidades marginalizadas que precisam resolver problemas reais com recursos limitados.
Os coletivos de design comunitário, os hackers de materiais, os projetistas de soluções para refugiados - estes são os portadores de tendências genuínas, mesmo que nunca apareçam nos catálogos oficiais. Te lembra algum coletivo de Lambrate lá dos anos 2010? Era bem isso. Bons tempos!
🎤 Quer saber o que realmente vai ficar da MDW? Venha para nossa palestra sobre a Design Week, no dia 19 de Abril.
Agora, vamos treinar o olhar? Aqui está um exercício simples que eu sempre faço enquanto visito a mostra:
Ao visitar uma exposição ou showroom, faça estas perguntas desenvolvidas a partir das teorias de Victor Papanek sobre design responsável:
Isso resolve um problema real ou só é esteticamente interessante?
A cadeira deslumbrante é confortável? O material sustentável é durável? O objeto "inteligente" adiciona valor genuíno?Esse conceito já foi visto antes? O que ele traz de novo?
O filósofo Boris Groys fala sobre a "obrigação da novidade" no design contemporâneo e aqui sabemos: muitas "inovações" são apenas referências históricas reembaladas. Os marketeiros chamam de beber no arquivo histórico, reinterpretar os clássicos, heritage. Eu digo que è falta de criatividade mesmo, risos.Se essa ideia desaparecer amanhã, o que muda no mundo?
Como argumenta o teórico de design Cameron Tonkinwise, precisamos de "menos inovação e mais implicação" - objetos que geram consequências positivas reais.
A maioria das "tendências" não passa desse teste triplo.
Faça o teste do ano passado e depois me diga!
Agora que você já sabe disso, vá além do óbvio!
O design é fundamentalmente uma disciplina de resolução de problemas, não de criação de espetáculos e o filósofo Gilles Lipovetsky jà nos avisou disto hà anos, riccorda?
Ele falava sobre o fato de que vivemos na era da "estética total" - onde tudo é estetizado, mas nem tudo tem propósito.
Por isso, não confie em quem surge uma vez por ano para te dizer o que é tendência.
Desenvolva seu próprio olhar crítico, faça perguntas incômodas, procure o que não está nos destaques.
O design é muito mais profundo do que um feed de stories.
Você está pronto para ver além da superfície?
🎤 Quer saber o que realmente vai ficar da MDW? Venha para nossa palestra sobre a Design Week, no dia 19 de Abril.
Ti aspetto, un bacio, Fah